Riscos associados à adoção de dietas vegetarianas e veganas entre universitários: sinais de alerta para comportamentos alimentares desordenados


A adoção de dietas vegetarianas e veganas vem crescendo significativamente entre os jovens, especialmente durante a fase universitária. No entanto, um estudo recente publicado na revista Eating Behaviors (2025) acende um importante sinal de alerta: por trás dessa mudança alimentar, muitas vezes celebrada por motivos éticos, ambientais ou de saúde, podem estar escondidos comportamentos alimentares desordenados (DEBs) que colocam em risco a saúde física e mental dos estudantes.

A pesquisa, conduzida com mais de 11 mil estudantes universitários norte-americanos, identificou que aqueles que adotaram dietas vegetarianas ou veganas durante a faculdade apresentaram taxas significativamente mais altas de comportamentos preocupantes em relação à alimentação. Isso inclui compulsão alimentar, exercícios físicos compulsivos, vômito autoinduzido e uso de laxantes ou pílulas para perda de peso. Esses comportamentos são conhecidos por aumentar o risco de desenvolver transtornos alimentares como anorexia nervosa, bulimia e transtorno de compulsão alimentar.

Um dado particularmente alarmante é que 34,2% dos estudantes que passaram a seguir uma dieta vegetariana ou vegana tiveram resultado positivo no questionário SCOFF — uma ferramenta de triagem para transtornos alimentares —, contra 21,2% daqueles que não mudaram sua alimentação. Isso representa quase o dobro do risco entre os adeptos recentes dessas dietas.

Outro ponto crítico é a presença de comportamentos alimentares desordenados em jovens que sequer têm diagnóstico formal de transtorno alimentar. Cerca de 25% dos estudantes relataram episódios semanais de comportamentos que atendem critérios diagnósticos, mas não haviam recebido nenhuma avaliação profissional. E entre aqueles que se tornaram vegetarianos/veganos, a probabilidade de estarem nesse grupo “invisível” era significativamente maior.

A compulsão alimentar foi o comportamento mais frequente entre os universitários, afetando 25% dos que se tornaram vegetarianos/veganos — mais do que em qualquer outro grupo. Mesmo quando a compulsão alimentar não estava associada a outras práticas compensatórias, como vômito, ela ainda apresentava uma forte associação com a adoção das dietas restritivas, sugerindo que a transição para o vegetarianismo ou veganismo pode, em alguns casos, estar ligada a estratégias inconscientes de controle de peso.

Mais preocupante ainda é a constatação de que muitos desses estudantes não reconhecem a gravidade do problema. Apesar da alta incidência de comportamentos alimentares de risco, a maioria não se percebe como necessitada de ajuda psicológica. Entre os participantes que relatavam práticas desordenadas ao menos semanalmente, quase 60% disseram não sentir necessidade de apoio em saúde mental. Isso reforça um cenário de subnotificação e subdiagnóstico, agravado por barreiras como o estigma, a vergonha e a normalização de práticas alimentares restritivas.

O estudo também revelou que estudantes do sexo feminino e aqueles que se identificam como gênero não-binário apresentaram um risco mais elevado de adotar uma dieta vegetariana ou vegana associada a comportamentos alimentares desordenados. Além disso, residências com maior autonomia alimentar — como apartamentos ou moradias fora do campus — foram ambientes mais propensos a abrigar esses estudantes, sugerindo que o controle sobre as próprias refeições pode facilitar a implementação de padrões alimentares potencialmente problemáticos sem supervisão.

A associação entre vegetarianismo/veganismo e transtornos alimentares já havia sido levantada por estudos anteriores, mas este novo trabalho amplia o alerta ao mostrar que essa relação não está restrita aos casos diagnosticados. Comportamentos subclínicos, que muitas vezes são invisíveis, também estão presentes em grande número, e podem evoluir para quadros mais graves se não forem identificados precocemente.

Outro aspecto que merece destaque é o risco de que motivações ligadas ao controle de peso ou insatisfação corporal estejam disfarçadas sob o discurso de saúde ou ética. Isso é particularmente perigoso porque torna mais difícil identificar sinais de alerta — inclusive pelos próprios profissionais de saúde. As dietas vegetarianas e veganas, quando motivadas por razões externas à saúde mental, podem mascarar distúrbios alimentares emergentes, retardando o diagnóstico e a intervenção adequada.

Em síntese, a adoção de dietas vegetarianas e veganas durante a faculdade, embora possa ser feita de forma saudável e ética, pode também funcionar como uma “porta de entrada” para comportamentos alimentares desordenados em jovens vulneráveis. Universidades, profissionais de saúde e famílias precisam estar atentos aos sinais silenciosos, especialmente em um ambiente onde a autonomia alimentar é crescente e o risco de normalização de práticas prejudiciais é alto.

A prevenção e o cuidado não devem se limitar à identificação dos casos mais graves, mas também precisam abordar os comportamentos sutis que, repetidos com frequência, indicam sofrimento emocional e risco para a saúde. Investir em educação nutricional, suporte psicológico e desenvolvimento de uma relação saudável com a comida é essencial para garantir que escolhas alimentares conscientes não se transformem em armadilhas disfarçadas.

Fonte: https://doi.org/10.1016/j.eatbeh.2025.101967

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