Quanto tempo a mais você viverá se tomar uma estatina?


O Dr. Malcolm Kendrick, conhecido por sua postura crítica em relação às diretrizes convencionais sobre colesterol e doenças cardiovasculares, publicou em seu blog uma análise provocativa sobre os reais benefícios das estatinas em termos de prolongamento da vida. Neste artigo, ele questiona se a promessa de maior longevidade com o uso desses medicamentos realmente se sustenta quando olhamos para os dados de forma prática e direta.

A premissa básica do artigo é simples, mas poderosa: ao invés de se perder em estatísticas de risco relativo – como "redução de 30% no risco de infarto" – Kendrick propõe examinar a questão em termos absolutos e de maneira mais concreta: quantos dias extras, de fato, uma pessoa ganha ao tomar estatinas por vários anos?

Ele começa analisando estudos amplamente reconhecidos, como o Heart Protection Study e o JUPITER trial, que envolvem dezenas de milhares de pacientes. Os resultados desses estudos costumam ser usados para justificar o uso rotineiro de estatinas, principalmente em pessoas com risco cardiovascular moderado ou alto.

No entanto, Kendrick observa que, mesmo nesses estudos de grande escala, a diferença na mortalidade absoluta entre os grupos que tomaram estatina e os que não tomaram é mínima. Em muitos casos, a sobrevida média aumentou em dias ou semanas, e não em anos. Por exemplo, ao citar uma análise que revisou 11 grandes estudos sobre estatinas, ele aponta que a expectativa de vida aumentou, em média, entre 3 e 4 dias para pacientes sem doença cardiovascular estabelecida, e entre 5 e 6 dias para aqueles com histórico de eventos cardíacos.

Essa forma de apresentar os dados – em dias de vida ganhos – muda completamente a percepção sobre o impacto clínico das estatinas. Kendrick argumenta que, para a maioria das pessoas, a ideia de tomar um medicamento diariamente por décadas em troca de poucos dias a mais de vida não é um benefício tão evidente quanto se costuma anunciar.

Ele também critica duramente a forma como os resultados são apresentados ao público e à comunidade médica. Segundo Kendrick, os riscos são inflacionados e os benefícios exagerados por meio de estatísticas de risco relativo, o que pode ser enganoso. Por exemplo, reduzir o risco de um evento cardiovascular de 2% para 1% pode ser apresentado como uma redução de 50% no risco, o que soa muito mais impressionante do que a redução absoluta de apenas 1%.

Além disso, ele levanta preocupações sobre os efeitos colaterais das estatinas, como dores musculares, fadiga e possíveis impactos cognitivos. Embora os defensores do uso disseminado das estatinas afirmem que os efeitos adversos são raros ou leves, Kendrick destaca que muitos pacientes relatam piora na qualidade de vida após o início da medicação.

Em última análise, o texto não recomenda a interrupção abrupta do uso de estatinas, nem nega que possam ter valor em casos específicos. No entanto, Kendrick propõe que a decisão de prescrevê-las – ou tomá-las – deveria ser baseada em uma compreensão clara e honesta dos benefícios reais, expressos em termos que qualquer pessoa possa entender.

A pergunta que ele deixa para reflexão é direta: vale a pena tomar uma estatina por décadas, com possíveis efeitos colaterais, em troca de alguns dias a mais de vida? Para Kendrick, essa é uma escolha que deve ser feita com total transparência e individualização, sem a ilusão de promessas milagrosas.

Fonte: https://drmalcolmkendrick.org/2015/10/27/how-much-longer-will-you-live-if-you-take-a-statin/

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