Padrão alimentar vegano está associado a alta prevalência de ingestão inadequada de proteína em idosos: um estudo de simulação


A eliminação ou redução significativa de alimentos de origem animal da dieta de idosos pode acarretar sérias consequências nutricionais, especialmente no que se refere à ingestão adequada de proteínas. Um estudo publicado em 2025 no Journal of Nutrition, Health and Aging investigou o impacto de diferentes padrões alimentares mais "sustentáveis" na ingestão de proteínas em idosos holandeses entre 65 e 79 anos, utilizando dados do Inquérito Nacional de Consumo Alimentar da Holanda.

Apesar de buscar avaliar possibilidades de alimentação com menor impacto ambiental, os resultados do estudo revelam importantes fragilidades que surgem quando há diminuição do consumo de carne, peixe, laticínios e ovos. A análise mostra que quanto maior a proporção de proteínas vegetais na dieta, maior a perda em quantidade e qualidade de proteína disponível para o organismo — e isso se torna crítico no cenário vegano, onde alimentos de origem animal foram completamente excluídos.


1. Redução significativa da proteína utilizável

A principal consequência observada com a exclusão de alimentos de origem animal foi a queda acentuada da ingestão de proteína utilizável — ou seja, aquela efetivamente absorvida e aproveitada pelo organismo. No cenário vegano, essa queda foi de aproximadamente 35% em comparação com a dieta original. A ingestão média de proteína caiu de 0,85 g/kg de peso corporal por dia (homens) e 0,82 g/kg (mulheres) para apenas 0,56 g/kg e 0,54 g/kg, respectivamente — abaixo do valor de referência ajustado de 0,58 g/kg. Isso significa que mais de 60% dos idosos simulados no cenário vegano não atingiram níveis mínimos de proteína recomendados, colocando-os em risco de desnutrição proteica.


2. Piora na qualidade da proteína consumida

Com a substituição de alimentos de origem animal por fontes vegetais, observou-se uma queda na qualidade das proteínas ingeridas. Isso ocorreu por dois fatores principais: digestibilidade reduzida e perfil incompleto de aminoácidos essenciais. Mesmo que a quantidade total de proteína consumida não se alterasse drasticamente em alguns cenários, como o vegetariano, a proporção de proteína que de fato pode ser utilizada pelo organismo diminuiu com o aumento da proporção vegetal. Essa perda de qualidade compromete diretamente funções fisiológicas importantes para idosos, como a manutenção da massa muscular.


3. Maiores perdas nas refeições mais críticas

A análise por refeição revelou que as perdas mais expressivas na qualidade da proteína ocorreram no café da manhã e no almoço — justamente os momentos do dia em que os idosos tendem a consumir quantidades menores de proteína. Nessas refeições, o consumo de alimentos como pão e cereais, pobres em aminoácidos essenciais como a lisina, resultou em perdas superiores a 30% da proteína ingerida no cenário vegano. A substituição de laticínios e ovos por alternativas vegetais nesses horários não compensou adequadamente o déficit proteico.


4. Simulações ignoram limitações práticas do consumo alimentar

A metodologia utilizada no estudo implicou na substituição direta, em gramas, de alimentos de origem animal por vegetais. Essa abordagem desconsidera o efeito real desses alimentos no apetite e na saciedade. Muitos dos produtos vegetais utilizados como substitutos, como hambúrgueres veganos ou alternativas à base de soja, são ricos em fibras e menos densos em proteínas, o que pode levar à redução espontânea do volume alimentar ingerido, especialmente em idosos que já apresentam menor apetite. A simulação não contempla essa redução esperada na prática.


5. A substituição foi baseada em conveniência, não em equivalência nutricional

Os alimentos vegetais utilizados nas simulações foram escolhidos com base na semelhança com os produtos substituídos em termos de uso culinário e não de equivalência nutricional. Por exemplo, carnes foram substituídas por hambúrgueres vegetais processados, que nem sempre oferecem uma densidade proteica comparável. Essa abordagem pode representar um cenário ainda mais otimista do que a realidade prática, pois presume uma substituição bem executada — algo que nem sempre ocorre entre os consumidores que eliminam produtos de origem animal sem orientação nutricional.


6. Cenários com redução parcial já apresentam aumento no risco de inadequação

Mesmo os cenários menos extremos, como o flexitariano (redução de 40% ou 80% do consumo de carne), apresentaram um pequeno, porém notável aumento na proporção de idosos com ingestão de proteína abaixo do nível recomendado. Isso demonstra que mesmo uma redução parcial dos alimentos de origem animal pode comprometer a adequação proteica em uma população que já é naturalmente mais vulnerável à perda de massa magra, fragilidade e sarcopenia.


7. Consequências fisiológicas ignoradas, mas previsíveis

Embora o estudo tenha focado apenas na ingestão proteica, é sabido que a baixa ingestão de proteína de alta qualidade em idosos está associada a uma série de consequências negativas: perda de massa muscular, redução da força, piora da mobilidade, risco aumentado de quedas e menor qualidade de vida. Ao reduzir significativamente os alimentos de origem animal, o risco de tais desfechos se intensifica, ainda que o estudo não os tenha mensurado diretamente.

Ao analisar os resultados dessa pesquisa, fica evidente que a redução ou eliminação de alimentos de origem animal em idosos deve ser encarada com grande cautela. As perdas nutricionais são significativas, especialmente no que se refere à proteína de alta qualidade, e as adaptações necessárias para compensá-las podem ser difíceis de alcançar na prática cotidiana. Dietas com alta proporção de alimentos vegetais exigem não apenas planejamento detalhado, mas também considerações individualizadas, principalmente para uma população tão sensível quanto a idosa. A substituição de carne, ovos e laticínios sem uma estratégia nutricional clara pode resultar em consequências negativas à saúde que não devem ser ignoradas.

Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1279770725000600

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