Dieta vegetariana e envelhecimento saudável entre idosos chineses: um estudo prospectivo
O impacto das dietas vegetarianas na saúde humana tem sido amplamente estudado ao longo das últimas décadas, especialmente em populações mais jovens e de meia-idade. Contudo, pouco se sabe sobre os efeitos dessas dietas em idosos, grupo especialmente vulnerável a deficiências nutricionais e declínio funcional com o passar do tempo. Um estudo recente publicado pela revista npj Aging, conduzido com base em dados da coorte chinesa Chinese Longitudinal Healthy Longevity Survey (CLHLS), lança luz sobre essa questão, revelando resultados surpreendentes e desafiadores para o senso comum.
A investigação
O estudo acompanhou 2.888 adultos chineses com idade média de 72 anos, todos considerados saudáveis no início do acompanhamento. Os participantes foram divididos conforme seus padrões alimentares em quatro categorias: veganos, ovo-vegetarianos, pesco-vegetarianos e onívoros. A definição de “envelhecimento saudável” adotada pela equipe incluía não apenas a ausência de doenças crônicas, mas também preservação da função cognitiva, física e mental até pelo menos os 80 anos de idade.
Após um seguimento mediano de seis anos, apenas 572 participantes atenderam aos critérios de envelhecimento saudável. Surpreendentemente, aqueles que seguiam dietas vegetarianas tiveram menor probabilidade de envelhecer de forma saudável em comparação aos onívoros. Os veganos, em particular, apresentaram risco ainda mais elevado, com uma chance 57% menor de alcançar envelhecimento saudável em comparação aos onívoros.
Componentes do envelhecimento saudável e dieta
Analisando cada componente separadamente, os pesquisadores observaram que os vegetarianos tinham maior probabilidade de apresentar doenças crônicas, comprometimento físico e declínio cognitivo aos 80 anos. Esses resultados se mantiveram mesmo após ajustes para fatores sociodemográficos e de estilo de vida.
Além disso, o estudo identificou uma associação direta entre o tempo de adesão à dieta vegetariana e o risco de não alcançar envelhecimento saudável. Aqueles que seguiam dietas vegetarianas desde os 60 anos apresentaram maior número de critérios não atingidos.
Qualidade da dieta importa
Um ponto crucial levantado pelos autores é que nem toda dieta vegetariana é igual. Utilizando dois índices – o Healthy Plant-Based Diet Index (hPDI) e o Unhealthy Plant-Based Diet Index (uPDI) – os pesquisadores avaliaram a qualidade das dietas baseadas em plantas. Vegetarianos com dietas classificadas como de baixa qualidade (alto uPDI ou baixo hPDI) apresentaram pior desempenho em todos os domínios de saúde avaliados.
Em contrapartida, vegetarianos com dietas de alta qualidade não diferiram significativamente dos onívoros em termos de envelhecimento saudável. Isso sugere que a qualidade da alimentação – e não apenas a exclusão de alimentos de origem animal – é um fator determinante.
Possíveis explicações biológicas
Diversos fatores podem justificar os resultados encontrados. O envelhecimento naturalmente compromete a absorção de nutrientes essenciais, o que torna os idosos mais suscetíveis às deficiências comuns em dietas vegetarianas estritas – como proteínas de alta qualidade, vitamina B12, ferro, cálcio, vitamina D e ácidos graxos ômega-3. Esses nutrientes desempenham papéis fundamentais na manutenção da massa muscular, saúde óssea e função cognitiva.
Além disso, o estudo aponta que proteínas vegetais são geralmente menos biodisponíveis e apresentam perfis de aminoácidos inferiores às proteínas animais, o que pode acelerar o processo de sarcopenia – a perda muscular relacionada à idade.
Outro fator relevante é o contexto socioeconômico. Na China, dietas vegetarianas podem refletir escolhas econômicas mais do que convicções nutricionais, resultando em padrões alimentares menos variados e nutritivos.
Reflexões e implicações práticas
Este estudo desafia a noção amplamente difundida de que dietas vegetarianas são automaticamente benéficas para todas as idades. Os resultados sugerem que a inclusão de alimentos de origem animal, como ovos, peixes e laticínios, oferece benefícios concretos para a saúde nesta fase da vida.
Também destaca a importância da personalização das recomendações nutricionais. Idosos vegetarianos devem ser acompanhados por profissionais capacitados, com atenção especial à suplementação de nutrientes críticos e à composição geral da dieta.
No fim das contas, o envelhecimento saudável parece depender menos de etiquetas alimentares rígidas e mais de otimização nutricional e qualidade do que se consome. Esse estudo reforça a necessidade de repensar estratégias alimentares com foco não apenas na prevenção de doenças, mas também na promoção integral da saúde funcional ao longo da vida.
Fonte: https://doi.org/1 0.1038/s41514-025-00213-4
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