Dieta com pouco carboidrato não aumenta o risco de doenças cardíacas, sugere novo estudo
Por décadas, dietas com baixo teor de carboidratos, como a cetogênica (ou “keto”), estiveram sob constante escrutínio por parte da comunidade médica, principalmente devido a preocupações com o impacto no colesterol e, consequentemente, no risco cardiovascular. No entanto, um novo estudo publicado na revista JAMA Network Open está desafiando essa visão tradicional ao sugerir que essas dietas podem não estar associadas a um risco aumentado de doenças cardíacas – pelo menos não da forma que se imaginava.
A pesquisa analisou dados de mais de 10 mil adultos ao longo de 12 anos, todos parte do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), um extenso banco de dados conduzido pelo governo dos Estados Unidos. O foco esteve na relação entre o consumo reduzido de carboidratos e a incidência de doenças cardiovasculares, incluindo infarto, AVC e insuficiência cardíaca.
Ao contrário do que muitas diretrizes tradicionais apontam, os pesquisadores não encontraram um risco cardiovascular maior entre aqueles que seguiam dietas com baixo teor de carboidratos. Isso inclui tanto os adeptos da dieta cetogênica clássica – rica em gorduras e extremamente pobre em carboidratos – quanto os que adotam versões menos restritivas, mas ainda assim reduzidas em carboidrato.
O estudo também chamou atenção para um ponto importante: o tipo de alimento consumido importa mais do que a simples quantidade de carboidrato. Dietas com baixo teor de carboidratos compostas por alimentos integrais e proteínas de qualidade apresentaram uma tendência de menor risco de doenças cardíacas. Já aquelas baseadas em alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras trans e pobres em micronutrientes, demonstraram efeitos inversos.
Outro dado interessante foi o perfil lipídico dos participantes. Embora alguns indivíduos tenham apresentado níveis elevados de colesterol total ou LDL, isso não se traduziu em maior número de eventos cardíacos ao longo do tempo. Ou seja, o marcador isolado deixou de ser um bom preditor do risco real, o que sugere a necessidade de uma abordagem mais contextualizada na análise dos exames laboratoriais.
Especialistas citados pela reportagem da Fox News destacam que a inflamação sistêmica, a resistência à insulina e o nível de triglicerídeos podem ser indicadores mais relevantes na avaliação de risco cardiovascular do que os níveis de colesterol isoladamente. Isso reforça uma mudança de paradigma que vem ganhando força: é preciso avaliar o quadro metabólico como um todo, em vez de focar apenas em um ou dois biomarcadores.
Apesar disso, os autores do estudo reconhecem limitações importantes. O trabalho é observacional, o que significa que não se pode afirmar causa e efeito. Também há a possibilidade de viés de memória nos relatos alimentares dos participantes. Ainda assim, o tamanho da amostra e o tempo de acompanhamento conferem força aos achados, oferecendo respaldo para novas linhas de pesquisa mais robustas e controladas.
A conclusão, portanto, não é que a dieta cetogênica seja uma panaceia, mas sim que ela pode ser uma ferramenta segura – e até benéfica – para certas pessoas, especialmente aquelas com síndrome metabólica, resistência à insulina ou obesidade. O mais importante é a qualidade dos alimentos incluídos, o acompanhamento profissional e o contexto individual de saúde.
Esse estudo se junta a um crescente corpo de evidências que questiona recomendações nutricionais generalistas, abrindo espaço para abordagens mais personalizadas e baseadas em evidências atualizadas. A ideia de que todas as dietas com pouco carboidrato são automaticamente prejudiciais à saúde cardiovascular parece estar ficando para trás, dando lugar a uma compreensão mais ampla e fundamentada do papel da alimentação na saúde do coração.
Fonte: https://www.foxnews.com/health/low-carb-keto-diet-may-not-raise-heart-disease-risk-new-study-suggests
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