Dieta com baixo teor de carboidratos no diabetes tipo 1: uma revisão sistemática

A busca por um melhor controle glicêmico no diabetes tipo 1 (DM1) leva muitos pacientes e profissionais de saúde a explorarem estratégias alimentares que possam oferecer resultados mais consistentes e sustentáveis. Uma dessas abordagens, a dieta com baixo teor de carboidratos, tem ganhado cada vez mais atenção. Um estudo recente, conduzido por pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia e publicado na Clinical Nutrition ESPEN em 2025, oferece uma análise detalhada sobre os possíveis benefícios desse tipo de dieta para pessoas com DM1.


Mais tempo dentro da faixa glicêmica ideal

Um dos destaques positivos mais relevantes do estudo foi o aumento do tempo dentro da faixa-alvo de glicose (TIR) — ou seja, o tempo em que os níveis de glicose permanecem entre 70 e 180 mg/dL. A dieta com restrição de carboidratos aumentou esse tempo em 5,68% em comparação com dietas convencionais. Isso representa aproximadamente 1 hora e 20 minutos a mais por dia com glicemia dentro do intervalo desejado, o que pode ter impacto direto na prevenção de complicações crônicas do diabetes.

Essa métrica é cada vez mais valorizada na prática clínica moderna por refletir melhor a variabilidade diária da glicemia em relação à tradicional hemoglobina glicada (HbA1c), que é uma média de três meses e não capta as oscilações ao longo do dia.


Redução dos episódios de hipoglicemia

Outro benefício importante foi a redução no tempo em hipoglicemia. A hipoglicemia, que pode ser leve ou severa, é um dos maiores desafios na vida de quem convive com DM1. A dieta low-carb reduziu tanto o tempo abaixo de 70 mg/dL (queda de 2,28%) quanto abaixo de 54 mg/dL (queda de 0,53%), o que indica maior estabilidade glicêmica e menos riscos de eventos perigosos, como desmaios ou convulsões.


Menor variabilidade glicêmica

O estudo também observou uma redução de 5,51% no coeficiente de variação da glicemia, um indicador que mostra o quanto os níveis de glicose oscilam ao longo do tempo. Quanto menor essa variação, mais previsível e estável é o controle glicêmico, facilitando o ajuste da insulina e proporcionando maior segurança no dia a dia da pessoa com DM1.


Menor necessidade de insulina

Com menos carboidratos sendo ingeridos, é natural que se exija menos insulina para metabolizá-los. E foi exatamente isso que os pesquisadores encontraram: redução de 8,39% na dose total diária de insulina, principalmente na insulina de ação rápida (bolus), que é aplicada antes das refeições. Isso não apenas reflete um melhor ajuste entre alimentação e terapia, mas também pode trazer benefícios em termos de custo, praticidade e qualidade de vida.


Efeito positivo na pressão arterial

Embora não fosse o foco principal da pesquisa, a dieta low-carb também apresentou uma redução significativa na pressão arterial sistólica, com queda média de 4,83 mmHg. Esse resultado é interessante porque a hipertensão é um fator de risco adicional para complicações cardiovasculares em pessoas com diabetes, e qualquer medida que contribua para a sua redução é bem-vinda.


Considerações finais

Mesmo com algumas limitações nos estudos analisados, os achados reforçam que a dieta com restrição de carboidratos pode oferecer vantagens importantes no controle glicêmico do diabetes tipo 1, especialmente no curto prazo. A melhora no tempo em faixa, na estabilidade glicêmica e na necessidade de insulina aponta para um potencial benefício clínico que merece ser mais explorado.

Importante destacar que qualquer mudança alimentar deve ser acompanhada por profissionais de saúde especializados, garantindo que o plano alimentar seja equilibrado e adequado às necessidades individuais — especialmente para evitar carências nutricionais ou impactos no crescimento, no caso de crianças e adolescentes.

Assim, longe de ser uma solução única, a abordagem low-carb desponta como uma ferramenta complementar promissora dentro de um tratamento bem estruturado e personalizado do DM1.

Fonte: https://doi.org/10.1016/j.clnesp.2025.03.009

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