Avaliação do efeito da dieta cetogênica nos parâmetros reprodutivos e metabólicos em mulheres iraquianas com síndrome dos ovários policísticos


A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma condição endócrina comum que afeta mulheres em idade reprodutiva, caracterizada por alterações hormonais, ovulação irregular e presença de múltiplos cistos nos ovários. Além dos sintomas reprodutivos, essa condição está frequentemente associada à resistência à insulina, obesidade central e outros distúrbios metabólicos que comprometem significativamente a qualidade de vida e a fertilidade das pacientes.

Em um estudo recente publicado no Al-Nahrain Journal of Science, pesquisadores iraquianos e indonésios investigaram os efeitos da dieta cetogênica em mulheres com SOP. O estudo incluiu 80 mulheres entre 18 e 35 anos diagnosticadas segundo os critérios de Roterdã, que consistem na presença de pelo menos dois dos seguintes fatores: anovulação ou oligo-ovulação, sinais clínicos e bioquímicos de hiperandrogenismo e ovários policísticos detectados por ultrassonografia.

Durante um período de três meses, as participantes seguiram rigorosamente uma dieta cetogênica – rica em gorduras, com ingestão moderada de proteínas e muito pobre em carboidratos. Essa estratégia nutricional visa induzir um estado metabólico de cetose, no qual o corpo passa a utilizar corpos cetônicos derivados da gordura como principal fonte de energia, imitando os efeitos do jejum prolongado.

Os resultados foram expressivos. Houve uma redução significativa nos seguintes parâmetros:

  • Índice de massa corporal (IMC): diminuição média de 5,4 kg/m²
  • Glicemia em jejum: redução média de 39,7 mg/dL
  • Hemoglobina glicada (HbA1c): queda de 1,03%
  • Insulina: diminuição de 4,9 mIU/L
  • HOMA-IR (indicador de resistência à insulina): redução de 0,97
  • Testosterona total: queda de 0,29 ng/mL
  • Hormônio luteinizante (LH): redução de 6,9 mIU/mL
  • Razão LH/FSH: diminuição de 1,1


Ao mesmo tempo, foi observada uma elevação significativa nos níveis de:

  • Estradiol: aumento de 29 pg/mL
  • Hormônio folículo-estimulante (FSH): elevação de 0,8 mIU/mL


Esses dados, apresentados detalhadamente na Tabela 1 do artigo (p. 10), demonstram que a dieta cetogênica não apenas auxilia na perda de peso, mas também melhora marcadores metabólicos e reprodutivos importantes, como a sensibilidade à insulina e o equilíbrio hormonal.

Na discussão (p. 11), os autores explicam que a redução da resistência à insulina e da hiperinsulinemia interfere positivamente na produção de andrógenos e na normalização do eixo hormonal. Isso quebra o ciclo vicioso típico da SOP, no qual o excesso de LH e insulina estimula a produção de androgênios, dificultando a ovulação e perpetuando os sintomas da síndrome.

Além disso, o estudo reforça que a dieta cetogênica promove melhorias na relação LH/FSH e na concentração de FSH, favorecendo a maturação folicular e a ovulação – etapas cruciais para a fertilidade.

Embora o estudo não tenha incluído um grupo controle e se limite a um período de três meses, seus achados corroboram pesquisas anteriores que apontam a dieta cetogênica como uma ferramenta terapêutica eficaz na abordagem da SOP, especialmente em mulheres com sobrepeso e resistência à insulina.

Como conclusão, os autores propõem que a dieta cetogênica seja considerada como uma estratégia não farmacológica promissora para o manejo da SOP, sobretudo por seus efeitos positivos tanto no metabolismo quanto na função hormonal.

Este estudo acrescenta evidências ao crescente corpo de literatura que vê a nutrição – em especial, dietas com baixo teor de carboidratos – como um pilar fundamental no cuidado de mulheres com SOP. No entanto, é fundamental que qualquer intervenção alimentar seja conduzida com orientação profissional, para garantir segurança e eficácia.

Fonte: https://doi.org/10.22401/ANJS.28.1.02

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