Alimentos de Origem Animal versus Alimentos de Origem Vegetal na Nutrição (1951)
Durante um importante simpósio realizado em 1951 pela Sociedade Britânica de Nutrição, em Londres, foi discutida de forma aprofundada a diferença entre alimentos de origem animal e vegetal no contexto da saúde humana. Apesar de ter ocorrido há mais de 70 anos, o conteúdo continua relevante, especialmente diante do atual debate sobre dietas baseadas exclusivamente em vegetais.
Um dos pontos centrais discutidos no encontro foi a superioridade qualitativa das proteínas animais. K. J. Carpenter destacou que proteínas vegetais, frequentemente consumidas em regiões subdesenvolvidas, carecem de diversos aminoácidos essenciais — elementos fundamentais para o crescimento, manutenção e reparo dos tecidos humanos. As proteínas animais, por outro lado, fornecem todos os aminoácidos essenciais em proporções ideais, favorecendo uma nutrição completa, especialmente em fases críticas da vida, como o crescimento infantil e a recuperação de doenças.
Além disso, K. L. Blaxter apresentou uma comparação quantitativa entre o valor nutricional de produtos animais e vegetais. Um acre de terra cultivado com trigo poderia alimentar 2,4 pessoas em termos calóricos por ano, mas só supriria adequadamente as necessidades de lisina de 1,8 pessoas, de cálcio de apenas 0,3 pessoas e praticamente nada de vitamina A ou C. Em contraste, o leite produzido por um acre de terra fornecia lisina suficiente para 4,1 pessoas, cálcio para 3,6, vitamina A para quase 2 e calorias para 0,6 pessoas. Esses dados demonstram a densidade de nutrientes críticos nos produtos animais, superando amplamente os vegetais, especialmente em qualidade de proteínas, vitaminas lipossolúveis e minerais biodisponíveis.
Outro ponto abordado foi a baixa eficiência das dietas vegetais em suprir micronutrientes. Muitos vegetais contêm fitatos e outras substâncias que dificultam a absorção de minerais importantes como ferro, zinco e cálcio. Já os alimentos de origem animal não apenas são ricos nesses nutrientes como também os oferecem em formas altamente biodisponíveis. Esse aspecto é particularmente importante em populações vulneráveis, como crianças e gestantes, cujas demandas nutricionais são elevadas.
A análise clínica apresentada por L. Wills reforçou ainda mais as limitações de dietas vegetais. Ao estudar crianças bantu da África do Sul, alimentadas com papas à base de milho e sorgo, foi observado um quadro severo de desnutrição proteico-calórica, conhecido como kwashiorkor. As crianças apresentavam edema, fígado aumentado e baixos níveis de proteína no sangue. A introdução de proteínas animais — por meio de coalhada e leite em pó — resultou em recuperação rápida, com normalização das funções hepáticas e melhora do estado nutricional. Wills concluiu que a principal causa da doença era a deficiência de proteína animal, e não apenas a falta de calorias.
Um aspecto que merece destaque é a ausência de vitamina B12 nos alimentos vegetais. Esse nutriente é essencial para o funcionamento neurológico e a produção de células sanguíneas, e sua deficiência pode causar anemia megaloblástica e danos neurológicos irreversíveis. Conforme relatado por R. F. A. Dean, todos os alimentos eficazes no tratamento do kwashiorkor continham vitamina B12, sugerindo que a carência desse micronutriente era um fator determinante na gravidade da condição. Nenhuma planta naturalmente contém B12 em quantidades significativas, o que torna os alimentos de origem animal praticamente indispensáveis para uma nutrição plena.
Embora o simpósio reconheça o papel complementar dos vegetais — especialmente quando combinados corretamente — a conclusão final é clara: alimentos de origem animal são insubstituíveis em muitos aspectos da nutrição humana. Sua alta densidade de nutrientes essenciais, biodisponibilidade superior e capacidade de prevenir deficiências graves os tornam fundamentais, especialmente em populações em crescimento, doentes ou com acesso limitado a suplementação adequada.
Em resumo, uma dieta que exclui completamente os alimentos de origem animal exige planejamento rigoroso, acesso constante a suplementos nutricionais e profundo conhecimento técnico. Mesmo assim, há riscos significativos, especialmente em populações vulneráveis. A abordagem mais prudente e eficaz continua sendo aquela que reconhece os méritos superiores dos alimentos animais e os incorpora de forma equilibrada à alimentação humana.
Fonte: https://doi.org/10.1111/j.1753-4887.1952.tb01083.x
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