A história de Madame Meuriot: como a perda de peso influenciou sua saúde e fertilidade (1851)
Em agosto de 1851, uma atriz chamada Madame Meuriot, então residente em Châtellerault, procurou ajuda para um problema que a afligia profundamente: um aumento significativo de peso que comprometia tanto sua saúde quanto sua carreira artística. Em apenas um ano, ela havia passado de 54 kg (120 libras) para aproximadamente 79 kg (175 libras). Para alguém cuja imagem pública era essencial para o sucesso profissional, esse ganho repentino de peso representava uma ameaça concreta.
Determinada a reverter o quadro, Madame Meuriot tentou métodos convencionais: passou a comer apenas o essencial para manter-se viva, substituiu o pão por biscoitos do tipo sea biscuit — mais secos e densos — para controlar a ingestão calórica, e seguiu orientação médica ao consumir diariamente 40 gotas de tintura de iodo. No entanto, todos esses esforços mostraram-se ineficazes. O acúmulo de gordura permanecia evidente por todo o corpo e, além disso, suas pernas apresentavam inchaço constante.
Diante do insucesso dos tratamentos convencionais e preocupada com os efeitos colaterais do iodo, Madame Meuriot decidiu seguir uma nova abordagem após ter contato com uma obra médica especializada. Escreveu ao autor, solicitando orientação, e recebeu dele uma fórmula medicinal acompanhada de instruções detalhadas, enviada diretamente de Paris a Perpignan, onde ela se encontrava à época.
A dieta prescrita fazia parte de um método que viria a se tornar influente nas décadas seguintes, baseado nos princípios que antecedem a popularização da dieta de William Banting. O foco era eliminar da alimentação os alimentos que na época já eram considerados os principais causadores da obesidade: açúcar, amido e farinhas refinadas. O plano alimentar proposto excluía completamente o pão comum, batatas, massas, doces, sobremesas açucaradas e até frutas em excesso — especialmente aquelas muito doces ou secas. Em vez disso, recomendava-se o consumo de:
- Carnes de todo tipo, preferencialmente grelhadas ou cozidas;
- Miúdos como fígado e rins;
- Peixes gordurosos e frutos do mar;
- Caldos concentrados de carne;
- Ovos preparados de forma simples;
- Legumes pobres em amido (como alface, espinafre, couve, pepino);
- Gorduras naturais presentes nos próprios alimentos, sem adição de óleos vegetais refinados.
O objetivo era duplo: reduzir ao máximo a liberação de insulina — hormônio central na promoção do acúmulo de gordura — e oferecer ao corpo uma fonte constante e estável de energia por meio das gorduras e proteínas. Além disso, o plano visava preservar a saciedade com alimentos nutritivos e densos, evitando a fome crônica e o catabolismo muscular, tão comuns nas dietas restritivas tradicionais.
Menos de dois meses depois, em outubro do mesmo ano, ela escreveu novamente relatando progressos notáveis. O inchaço das pernas havia desaparecido, ela caminhava com mais facilidade e já não apresentava dificuldades respiratórias. Embora não soubesse exatamente quanto peso havia perdido, seus vestidos já não serviam como antes — estavam mais folgados —, sinal claro de redução de medidas corporais.
Animada com os resultados, Madame Meuriot perguntou se poderia prolongar o tratamento por mais um ou dois meses. A solicitação foi atendida, mas não houve mais notícias até agosto do ano seguinte, quando ela apareceu pessoalmente, a caminho de um compromisso artístico em Lille. Durante essa visita, relatou que sua condição física continuava estável: o inchaço nas pernas não retornara e a sensação de bem-estar era evidente. Mas havia uma novidade inesperada: ela estava grávida.
Essa revelação a surpreendeu, pois, até então, não havia conseguido engravidar. Em carta datada de 13 de outubro, Madame Meuriot confirmou a gestação de oito meses e buscava agora orientações para lidar com esse novo estágio da vida.
Esse caso, embora descrito com o estilo florido e detalhado do século XIX, levanta uma observação importante, ainda relevante nos dias atuais: a redução da obesidade pode favorecer a fertilidade. Estudos contemporâneos reforçam essa associação. O excesso de gordura corporal interfere em diversos eixos hormonais, especialmente nos que regulam a ovulação. A resistência à insulina, comum em pessoas com sobrepeso, afeta negativamente a função reprodutiva. Além disso, condições como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), frequentemente associadas à obesidade, são reconhecidas causas de infertilidade feminina.
Embora o caso de Madame Meuriot seja um relato individual, ele ecoa uma verdade fisiológica: o equilíbrio metabólico é um aliado crucial da fertilidade. Perder peso de forma saudável, sob orientação adequada, pode restaurar funções corporais comprometidas e abrir caminho para possibilidades antes inalcançáveis — como, no caso dela, a maternidade.
Do ponto de vista clínico, este relato histórico também ressalta a importância de abordagens individualizadas e da cautela com o uso de substâncias potencialmente tóxicas, como o iodo em altas doses, para finalidades terapêuticas. A saúde metabólica não se conquista com restrições extremas ou substâncias milagrosas, mas com intervenções consistentes, que respeitem a fisiologia do corpo.
O testemunho de Madame Meuriot, portanto, é mais do que um relato curioso do passado: é uma lembrança viva de como o cuidado com a saúde corporal pode refletir diretamente no bem-estar geral e até mesmo na realização de sonhos pessoais.
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