Uma dieta de carne é uma ameaça? (1930)
O artigo discute a questão da segurança e viabilidade de uma dieta baseada exclusivamente em carne, um tema debatido há décadas. Ao longo dos anos, surgiram diversas preocupações sobre o impacto do consumo elevado de carne na saúde humana. Antigamente, temia-se que a carne fosse tóxica devido à sua tendência à decomposição ou que levasse à intoxicação interna. Posteriormente, sugeriu-se que a carne poderia contribuir para o aumento dos níveis de ácido úrico, o que estaria associado a diversas doenças. Mais recentemente, as preocupações passaram a girar em torno da possibilidade de que dietas ricas em proteína animal pudessem estar ligadas a problemas renais e à hipertensão arterial.
No entanto, as evidências apresentadas no artigo mostram que muitas populações que tradicionalmente vivem de uma dieta carnívora, como os esquimós e outros povos do extremo norte, não demonstram sinais de danos à saúde causados por esse tipo de alimentação. Um dos estudos mais relevantes citados analisou a saúde de 142 esquimós que consumiam uma dieta quase exclusivamente composta por carne. Os resultados mostraram que não havia elevação anormal da pressão arterial nem sinais evidentes de problemas renais, sugerindo que uma dieta carnívora pode ser bem tolerada pelo organismo humano.
Outro experimento de grande relevância envolveu dois exploradores do Ártico que viveram durante um ano com uma dieta composta exclusivamente de carne e produtos de origem animal. Eles consumiram diversos tipos de carne, incluindo músculo, fígado, rins, cérebro, gordura e medula óssea. Durante o estudo, sua ingestão diária de proteínas variou entre 100 e 140 gramas, enquanto o consumo de gorduras variou entre 200 e 300 gramas, com uma ingestão mínima de carboidratos (7 a 12 gramas diárias, obtidas apenas da carne). Ao final do experimento, os pesquisadores relataram que ambos os participantes permaneceram mentalmente alertas, fisicamente ativos e não apresentaram qualquer alteração significativa na saúde. Não houve aumento da pressão arterial, não foram detectados danos renais e não surgiram deficiências vitamínicas. Além disso, a absorção de nutrientes pelo trato intestinal permaneceu eficiente, demonstrando que a dieta não comprometeu a digestão e a assimilação dos alimentos.
O estudo também trouxe observações sobre a importância da ingestão de diferentes partes do animal para garantir um equilíbrio nutricional adequado. Embora o consumo exclusivo de carne magra possa resultar em problemas como a perda de cálcio, aqueles que ingerem ossos, gordura e órgãos junto com a carne parecem evitar tais deficiências. Os pesquisadores observaram que, embora os participantes do estudo apresentassem cetose leve – um estado metabólico natural em dietas com baixo teor de carboidratos –, não houve sintomas adversos decorrentes desse processo. Nenhuma alteração significativa na função metabólica foi detectada, reforçando a ideia de que a cetose pode ser uma adaptação normal e saudável do organismo humano.
Outro aspecto interessante abordado no artigo foi a comparação entre os esquimós que mantinham uma dieta tradicional baseada em carne fresca e aqueles que passaram a consumir alimentos industrializados, como farinha, cereais e produtos enlatados. Os últimos demonstraram maior incidência de problemas de saúde, sugerindo que a substituição de uma dieta carnívora natural por produtos processados pode resultar em prejuízos nutricionais.
O estudo conclui que uma dieta rica em carne pode ser saudável e sustentável para determinadas populações, desde que seja composta de diferentes partes do animal para evitar deficiências nutricionais. Além disso, os resultados desafiam a visão de que o consumo elevado de proteína animal seja necessariamente prejudicial à saúde, ao menos para grupos que evoluíram com essa alimentação e que fazem um consumo adequado de nutrientes derivados de animais.
Fonte: https://bit.ly/4gLLRAL
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