Perfis do transcriptoma muscular em atletas masculinos de ultra resistência de elite aclimatados a uma dieta rica em carboidratos versus pobre em carboidratos


Este estudo investigou como diferentes dietas afetam a expressão genética nos músculos de atletas de ultra-resistência. Foram analisados dois grupos: um que seguia uma dieta tradicional rica em carboidratos e outro que adotava uma dieta com baixo teor de carboidratos e alta em gorduras por aproximadamente 20 meses. O objetivo era entender como essas dietas influenciam a adaptação metabólica e a resposta muscular ao exercício intenso.

Os pesquisadores descobriram que, em repouso, os atletas da dieta baixa em carboidratos apresentavam maior ativação de genes relacionados à queima de gordura e ao metabolismo de lipídios. Isso sugere que essa dieta reprograma os músculos para utilizar mais gordura como fonte primária de energia, reduzindo a dependência da glicose. Em contrapartida, os atletas da dieta rica em carboidratos demonstraram um perfil genético mais voltado para o uso de glicose como combustível.

Os participantes foram submetidos a um teste de corrida de três horas em esteira, e amostras musculares foram coletadas antes, imediatamente após e duas horas depois do exercício. Logo após o treino, a resposta genética dos dois grupos foi semelhante, indicando que o esforço físico impõe uma demanda metabólica que sobrepõe as diferenças dietéticas no curto prazo. No entanto, na fase de recuperação, surgiram divergências significativas: os atletas da dieta baixa em carboidratos exibiram alterações na expressão de genes ligados à inflamação e à resposta imunológica, sugerindo um impacto dietético na regeneração muscular pós-exercício.

Outro achado importante foi que, apesar da menor ingestão de carboidratos, os atletas dessa dieta não apresentaram diferenças nos níveis de glicogênio muscular em comparação aos do grupo de alto consumo de carboidratos. Isso desafia a ideia de que uma dieta pobre em carboidratos compromete as reservas de energia muscular. Os pesquisadores sugerem que esses atletas podem ter desenvolvido mecanismos alternativos para preservar o glicogênio, como o uso mais eficiente de gorduras e cetonas.

Um aspecto inesperado do estudo foi a descoberta de que o gene PPP1R1A, envolvido na regulação da síntese de glicogênio, estava mais ativo nos atletas da dieta baixa em carboidratos em todos os momentos analisados. Isso pode indicar um papel fundamental na adaptação do metabolismo energético desses indivíduos, permitindo que eles mantenham suas reservas de glicogênio mesmo consumindo poucos carboidratos.

Os resultados reforçam que uma dieta rica em gorduras e pobre em carboidratos promove uma maior utilização de gordura como combustível, sem comprometer a recuperação muscular e o desempenho físico. Além disso, as descobertas levantam novas questões sobre como diferentes abordagens dietéticas podem modular a resposta inflamatória pós-exercício, impactando diretamente a recuperação e a adaptação dos atletas.

Esse estudo abre caminho para novas pesquisas sobre os efeitos da dieta cetogênica e suas implicações para o desempenho esportivo e a saúde metabólica, tanto em atletas de elite quanto em pessoas que buscam otimizar seu metabolismo e resistência física.

Fonte: https://go.nature.com/3DyMNuZ

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