Efeito do extrato de broto de brócolis e da microbiota intestinal basal na glicemia de jejum em pré-diabetes: um estudo randomizado controlado por placebo


O sulforafano, um composto encontrado no brócolis, tem sido promovido como um potencial aliado no controle da glicose e na prevenção do diabetes tipo 2. No entanto, um estudo recente publicado na Nature Microbiology revela que essa substância pode não ser tão eficaz quanto se divulga.

O estudo foi realizado com 89 participantes diagnosticados com pré-diabetes, divididos aleatoriamente em dois grupos. Um grupo recebeu um suplemento contendo extrato de broto de brócolis, enquanto o outro recebeu um placebo. O objetivo era avaliar se o sulforafano poderia reduzir significativamente os níveis de glicose no sangue após 12 semanas de suplementação.

Os resultados mostraram que a redução na glicemia foi de apenas 0,2 mmol/L, um valor abaixo da meta estabelecida pelos pesquisadores. Para que o tratamento fosse considerado eficaz, esperava-se uma redução de pelo menos 0,3 mmol/L. Esse dado sugere que, no geral, o efeito do sulforafano foi pequeno e sem grande impacto clínico na maioria dos participantes.

Outro ponto negativo observado foi que a melhora glicêmica foi significativa apenas em um grupo muito específico de pessoas. Os chamados "respondedores" apresentavam características metabólicas diferenciadas, como um tipo leve de diabetes relacionado à idade e uma microbiota intestinal específica. Isso significa que o efeito do sulforafano não é universal e depende de fatores individuais, tornando seu uso generalizado pouco viável.

Além da ineficácia generalizada, os pesquisadores também observaram um número considerável de efeitos colaterais gastrointestinais. Muitos participantes que consumiram o extrato de brócolis relataram sintomas como diarreia, náusea e refluxo. Nove pessoas tiveram que abandonar o estudo devido a esses efeitos adversos. Esse dado reforça a limitação do suplemento, pois o desconforto gastrointestinal pode dificultar sua aceitação e adesão a longo prazo.

Outro ponto relevante é que o estudo durou apenas 12 semanas, o que não permite avaliar os efeitos do sulforafano a longo prazo ou sua real capacidade de prevenir a progressão para o diabetes tipo 2. Além disso, os pesquisadores não encontraram nenhuma melhora significativa em outros marcadores metabólicos importantes, como resistência à insulina, índice de massa corporal ou função hepática. Isso significa que, mesmo para aqueles que tiveram uma pequena melhora na glicose, o suplemento não trouxe benefícios metabólicos abrangentes.

Por fim, a complexidade da resposta ao sulforafano torna sua aplicação prática bastante difícil. Como sua eficácia depende da composição da microbiota intestinal, identificar quem realmente se beneficiaria do tratamento exigiria testes genéticos e bacterianos sofisticados e caros, algo inviável para a maioria das pessoas. Isso reforça a ideia de que o sulforafano não pode ser considerado uma solução acessível ou eficiente para o tratamento da pré-diabetes.

Diante desses dados, fica claro que o sulforafano não é a solução milagrosa para o controle da glicose e do diabetes tipo 2 que muitos divulgam. Seu impacto foi pequeno, seus benefícios foram limitados a um grupo muito restrito e sua aceitação foi dificultada pelos efeitos colaterais. O que realmente tem comprovação científica para o controle do diabetes e da pré-diabetes continua sendo a adoção de um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e controle do peso.

É importante ter um olhar crítico para as novas tendências e sempre buscar informações embasadas em estudos científicos confiáveis antes de adotar qualquer suplemento ou estratégia nutricional. A saúde deve ser tratada com responsabilidade, e a melhor forma de prevenir e tratar o diabetes ainda está nas escolhas diárias que promovem um metabolismo saudável.


Fonte: https://go.nature.com/3Dr9IbH

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