O mito dos grãos integrais para diabetes


Muitos profissionais de saúde ainda recomendam o consumo de fibras e grãos integrais para o controle do diabetes. Mas será que essa orientação é realmente eficaz? A evidência científica sugere que não.


Uma meta-análise publicada em 2012 investigou os efeitos do consumo de fibras sobre a hemoglobina glicada (HbA1c), um dos principais marcadores do controle glicêmico. Os resultados mostraram que comer até 40g de fibra por dia reduziu a HbA1c em apenas 0,26%. Os pesquisadores classificaram essa redução como estatisticamente significativa, mas na prática clínica esse efeito é irrelevante.


Outro estudo mais recente, uma meta-análise de 2020, avaliou o papel das fibras e dos grãos integrais no controle do diabetes. O efeito encontrado foi semelhante: consumir até 35g de fibra por dia poderia reduzir a HbA1c em apenas 2mmol. Novamente, o resultado foi considerado estatisticamente significativo, mas isso não se traduz em benefícios reais para a maioria dos pacientes.

Para entender melhor, imagine um paciente com uma HbA1c de 86 mmol (10%). Se ele aumentar o consumo de fibras e grãos integrais conforme essa recomendação, sua HbA1c cairia, na melhor das hipóteses, para 84 mmol (9,8%). Essa mudança não reduz a necessidade de medicamentos, nem o risco de doenças cardiovasculares.

Agora, compare com a estratégia de simplesmente reduzir pela metade a ingestão total de carboidratos. Esse mesmo paciente pode ter uma redução muito mais significativa, com a HbA1c caindo para cerca de 57 mmol (7,4%). Em muitos casos, essa mudança pode reduzir a necessidade de medicamentos e diminuir o risco de complicações cardiovasculares.

Então, por que essa recomendação de consumir mais grãos integrais ainda é tão disseminada? A realidade é que ela não se sustenta quando analisamos os dados com rigor.

Se o objetivo é melhorar o controle do diabetes de forma significativa, a redução dos carboidratos na alimentação é uma estratégia muito mais eficaz. Esse é o caminho que realmente faz diferença para a saúde.

PMID:
22218620, 32142510 e 35537861

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