Experimentos e observações sobre o suco gástrico e a fisiologia da digestão (1833)


William Beaumont, um cirurgião do Exército dos EUA, fez descobertas revolucionárias sobre a digestão no século XIX a partir de um caso médico extraordinário. Em 1822, Alexis St. Martin, um jovem franco-canadense, sofreu um ferimento por arma de fogo que resultou em uma abertura permanente no estômago. Essa condição permitiu que Beaumont realizasse observações diretas sobre como os alimentos eram digeridos, tornando seus experimentos pioneiros na fisiologia da digestão.

Beaumont realizou diversos testes introduzindo diferentes tipos de alimentos diretamente no estômago de St. Martin através da abertura, monitorando o tempo e as condições em que eram digeridos. Entre os alimentos estudados, a carne recebeu atenção especial, pois era amplamente consumida e, na época, havia muitas teorias errôneas sobre seu processo digestivo. Ele observou que a carne começava a ser dissolvida rapidamente pelo suco gástrico, um fluido altamente ácido contendo ácido clorídrico e a enzima digestiva pepsina. Esse ambiente ácido quebrava as proteínas da carne em pequenos fragmentos, tornando-os absorvíveis no intestino delgado.

Uma das descobertas mais notáveis de Beaumont foi a eficiência da digestão da carne em comparação com os vegetais. Enquanto a carne era reduzida a compostos utilizáveis rapidamente, certos vegetais, especialmente aqueles ricos em fibras, levavam mais tempo para serem completamente processados. Isso acontece porque a fibra vegetal não é digerida pelas enzimas humanas e passa intacta pelo estômago para ser fermentada por bactérias no intestino grosso. Assim, enquanto os vegetais podem permanecer por mais tempo no sistema digestivo devido à necessidade de fermentação, a carne é decomposta de maneira eficiente no estômago e absorvida diretamente no intestino delgado, sem a necessidade de processos adicionais.

Beaumont também desmistificou um dos mitos mais persistentes sobre a digestão da carne: a crença de que ela "apodrece" no estômago. Esse equívoco surgiu porque a carne pode sofrer putrefação em ambientes externos quando exposta ao ar e a bactérias decompositoras. No entanto, no corpo humano, o estômago é um ambiente extremamente ácido, o que impede a proliferação de bactérias decompositoras. Em seus experimentos, Beaumont observou que a carne nunca permanecia tempo suficiente no estômago para entrar em decomposição. Pelo contrário, ela era continuamente dissolvida pelo suco gástrico e, uma vez reduzida a pequenos fragmentos de proteínas e aminoácidos, seguia para o intestino delgado para absorção. Diferentemente do que ocorre com alguns carboidratos e fibras vegetais, que podem ser fermentados por bactérias no cólon, a carne é digerida de maneira direta e eficiente.

Além disso, Beaumont notou que a digestão da carne variava de acordo com fatores individuais, como estado de saúde, nível de atividade física e até mesmo o estado emocional do indivíduo. Ele percebeu que o estresse e algumas doenças podiam retardar a produção de suco gástrico, tornando a digestão mais lenta. Por outro lado, indivíduos saudáveis e ativos apresentavam uma digestão da carne mais eficiente, sem sinais de desconforto ou acúmulo de resíduos não digeridos.

Os experimentos de Beaumont representaram um grande avanço para a compreensão científica da digestão. Suas descobertas ajudaram a estabelecer a base da fisiologia digestiva moderna, esclarecendo que a digestão da carne é um processo altamente eficiente, rápido e essencial para o fornecimento de nutrientes ao corpo humano. Seu trabalho refutou crenças infundadas e demonstrou que a carne é completamente digerida no estômago e no intestino delgado, sem qualquer risco de putrefação ou impacto negativo para a saúde quando consumida adequadamente.

Fonte: https://bit.ly/4hP2b4L

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**Evidência adicionada ao eBook "Evidências para uma Dieta Baseada em Animais"

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