Comer carne vermelha, especialmente em forma processada, aumenta o risco de demência e de declínio cognitivo?
As manchetes têm sido: "Novo estudo relaciona consumo de carne vermelha ao aumento do risco de demência", seguindo um estudo publicado na semana passada na Neurology.
Vamos analisar algumas falhas metodológicas:
- Estudo Observacional: A pesquisa foi baseada em dados observacionais, que não permitem estabelecer uma relação de causa e efeito entre o consumo de carne e os desfechos cognitivos.
- Autorreporte: O consumo de carne foi medido por questionários de frequência alimentar autorreportados, sujeitos a erros de memória e viés de resposta.
- Agrupamento Problemático de Alimentos: Houve muito "agrupamento de alimentos" no questionário de frequência alimentar. Na categoria de carnes não processadas, sanduíches e pratos mistos (por exemplo, lasanha) foram agrupados com bife e cordeiro.
- Validação Limitada de Dados Dietéticos: Embora os questionários tenham sido validados previamente, sua precisão ao longo de décadas é comprometida. A avaliação da ingestão de carne vermelha pode ser afetada pelo viés de recordação, especialmente se os participantes já apresentavam algum grau de comprometimento cognitivo antes do início do estudo.
- Viés do Usuário Saudável: Citando o estudo: "Os participantes que consumiram mais carne vermelha apresentaram maior prevalência de tabagismo atual, hipertensão e diabetes, e menores níveis de qualidade alimentar, nível educacional, [status socioeconômico] e atividade física." Além disso: "A ingestão de carne vermelha não processada não foi significativamente associada a nenhuma medida da função cognitiva objetiva." Esse ponto é importante, pois os mecanismos propostos para justificar como a carne vermelha poderia prejudicar o cérebro (como TMAO e ingestão de gordura saturada) não são específicos para carne vermelha processada.
- Problemas na Plausibilidade Biológica: Um exemplo: o estudo afirma que "Dietas ricas em gorduras saturadas podem reduzir o fator neurotrófico derivado do cérebro…" Contudo, ao verificar a referência (ref. 34), a dieta mencionada é, na verdade, chamada de "dieta rica em sacarose".
- Generalização Limitada: A amostra consistiu principalmente de profissionais de saúde brancos, limitando a aplicabilidade dos resultados a outras populações e etnias.
- Foco em Populações de Alta Escolaridade: A maior precisão dos participantes pode não refletir padrões de comportamento alimentar e saúde em populações com níveis educacionais mais baixos.
- Confusão Residual: Apesar do ajuste para várias variáveis (como atividade física e histórico de doenças), não se pode descartar a influência de fatores não controlados.
- Demência Autorreferida: Parte dos casos de demência foi baseada em relatos pessoais, o que pode levar a erros de classificação.
- Resultados Inconsistentes para Carnes Não Processadas: Os dados sobre carne não processada não foram conclusivos.
- Falta de Biomarcadores Diretos: Não foram utilizados marcadores biológicos para confirmar a relação entre o consumo de carne e os mecanismos de dano cognitivo.
- Substituição Idealizada de Alimentos: Os efeitos da substituição de carne por fontes alternativas (como nozes e legumes) foram hipotéticos e não testados diretamente no estudo.
Em resumo, este estudo apresenta diversas limitações e parece mais uma tentativa de pseudociência, produzido por uma instituição com forte viés ideológico vegano — no caso, Harvard.
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