A evolução da acidez estomacal e sua relevância para o microbioma humano
A acidez gástrica desempenha um papel crucial no sistema digestivo de vertebrados, funcionando como um filtro ecológico que protege contra microrganismos patogênicos. Estudos recentes mostram que a acidez do estômago varia significativamente entre espécies, dependendo da dieta e do risco de exposição a patógenos. Carniceiros, como abutres, possuem estômagos extremamente ácidos para neutralizar microrganismos nocivos presentes na carniça, enquanto herbívoros, com menor risco de contaminação alimentar, apresentam níveis de acidez muito mais baixos.
Essa diferença reflete adaptações evolutivas: animais que consomem dietas ricas em material vegetal, como ruminantes (vacas, girafas, antílopes), possuem estômagos projetados para a fermentação de celulose. O estômago desses herbívoros poligástricos é dividido em compartimentos – rúmen, retículo, omaso e abomaso – que facilitam a digestão de materiais vegetais resistentes, mas apresentam pH elevado (menos ácido), adequado para abrigar as bactérias fermentadoras essenciais para o processo digestivo.
Por outro lado, em humanos, o pH gástrico é extremamente ácido, em torno de 1,5, semelhante ao de carniceiros e mais ácido que o de muitos carnívoros. Essa característica sugere que, ao longo da evolução, o estômago humano se adaptou para prevenir infecções alimentares, eliminando bactérias e parasitas presentes nos alimentos antes que alcancem o intestino.
Entretanto, fatores como envelhecimento, dietas modernas e intervenções médicas (como o uso de inibidores de ácido ou cirurgias bariátricas) podem reduzir a acidez estomacal, aumentando a vulnerabilidade a patógenos e alterando a composição da microbiota intestinal. Isso tem implicações importantes para a saúde, considerando que um pH ácido também dificulta a recolonização de micróbios benéficos.
A pesquisa conclui que a acidez gástrica não apenas reflete o tipo de dieta, mas também desempenha um papel essencial na proteção contra patógenos e na manutenção da saúde intestinal. Esses achados reforçam a necessidade de compreender melhor como alterações no pH estomacal, causadas por mudanças de estilo de vida e intervenções médicas, impactam a microbiota e a saúde geral.
Exemplos de pH estomacal em vertebrados:
- Crocodilo: 1,0
- Abutre: 1,3
- Humano: 1,5
- Porco: 2,6
- Gato: 3,6
- Ovelha: 5,0
- Macaco: 5,9
- Bovino: 6,5
Nenhum comentário: