O caso claramente incompreendido da Apolipoproteína B-100


Como muitas vezes acontece na natureza, “ruim” nem sempre está errado, e existe um equilíbrio de forças dentro de sistemas biológicos complexos, como o corpo humano. Devido ao seu grande impacto na vida humana, a doença cardiovascular é uma área chave na pesquisa biomédica. A compreensão de que o estreitamento dos vasos sanguíneos não se deve apenas à deposição de gordura, mas a um processo impulsionado pela inflamação, foi uma descoberta fundamental nas últimas 3 décadas da história da medicina.

As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) transportam as maiores quantidades de colesterol no sangue e, portanto, são geralmente conhecidas como “gorduras ruins”. Além do colesterol, o LDL contém uma proteína chamada apolipoproteína B-100 (apoB-100), que torna solúveis esses transportadores de gordura. No entanto, a apoB-100 também é necessária para a remoção normal e metabolismo do LDL pelo fígado. O paradigma atual na pesquisa cardiovascular estabelece que o acúmulo de partículas de LDL oxidadas dentro das paredes arteriais é um mecanismo chave que contribui para a doença. Através do reconhecimento de apoB-100 por macrófagos, o LDL se acumula em placas dentro das paredes arteriais, induzindo uma ativação prolongada de respostas inflamatórias e resultando em aumento e enfraquecimento das placas. Esse enfraquecimento é responsável pela eventual ruptura das placas, levando ao bloqueio súbito do fluxo sanguíneo que causa um infarto do miocárdio ou um acidente vascular cerebral.

Sigel e seus colegas apresentaram agora um papel diferente para o apoB-100. Os pesquisadores mostraram que a interação da apoB-100 com o ácido lipoteicoico (LTA) do Staphylococcus aureus tem efeitos anti-inflamatórios que podem interferir na resposta do corpo à infecção. Por meio de uma combinação de experimentos in vitro e in vivo, os autores mostraram que esse efeito anti-inflamatório é mapeado seletivamente para partículas de LDL contendo apoB-100 e não para outras partículas transportadoras de lipídios no sangue. A interação de apoB-100 e LTA amorteceu a liberação de moléculas pró-inflamatórias conhecidas como citocinas pelos glóbulos brancos, que são cruciais na defesa contra a invasão bacteriana. Relatórios recentes observaram efeitos anti-inflamatórios e anti-ateroscleróticos de peptídeos derivados de apoB-100. No entanto, este é o primeiro estudo relatando o efeito da lipoproteína na infecção bacteriana.

Essa descoberta destaca a questão de saber se a hipercolesterolemia pode ser um fator de risco que nos torna mais suscetíveis a infecções ou se essa mudança na resposta imune pode realmente proteger contra inflamações prejudiciais. Com base nesses resultados, poderíamos começar a hipotetizar que a luta contra a obesidade também é uma batalha para prevenir infecções microbianas? Ou a interação entre patógenos bacterianos e apo-B100 é uma ilustração da capacidade do corpo de se proteger do excesso de inflamação e danos? As respostas certamente serão complexas, mas as novas descobertas intrigantes devem estimular pesquisas adicionais que possam transformar nossa compreensão da progressão da doença.

Fonte: https://bit.ly/3n1e7JC

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