Otimizando as adaptações intramusculares ao exercício aeróbico: efeitos da restrição de carboidratos e suplementação proteica na biogênese mitocondrial.

No universo do treinamento físico, as mitocôndrias — conhecidas como as "usinas de energia" das células — desempenham papel crucial no desempenho aeróbico. O artigo de revisão publicado por Lee M. Margolis e Stefan M. Pasiakos oferece um panorama detalhado sobre como ajustes dietéticos, especialmente a restrição de carboidratos e a suplementação de proteínas, podem potencializar a biogênese mitocondrial induzida por exercícios aeróbicos.


Mitochondrial Biogenesis: O Motor da Capacidade Aeróbica

A biogênese mitocondrial é um processo adaptativo essencial que ocorre nos músculos esqueléticos em resposta ao exercício aeróbico. Envolve aumento do número, tamanho, conteúdo e eficiência das mitocôndrias. Esse processo melhora a oxidação de ácidos graxos, reduz a glicogenólise muscular e, como consequência, retarda a fadiga durante o exercício.


O principal regulador molecular da biogênese mitocondrial é a coativadora do receptor gama ativado por proliferador de peroxissoma 1 alfa (PGC-1α). Essa molécula é ativada por vias intracelulares complexas desencadeadas por alterações no cálcio intracelular, na relação AMP:ATP e no balanço redox NAD+:NADH — eventos típicos do exercício físico.


Exercício Aeróbico: Disparando a Sinalização Celular

O exercício aeróbico induz estresse celular que ativa duas vias principais: a AMPK (proteína quinase ativada por AMP) e a p38 MAPK (quinase ativada por mitógenos p38). Essas vias levam à ativação transcricional e pós-translacional da PGC-1α. Isso significa que o exercício, por si só, é um potente estímulo para a formação de novas mitocôndrias, melhorando a eficiência energética dos músculos.


Restrição de Carboidratos: Um Estímulo Metabólico Adicional

Embora tradicionalmente se defenda a ingestão de carboidratos para sustentar o desempenho aeróbico, evidências recentes indicam que a restrição periódica de carboidratos pode aumentar a resposta mitocondrial ao exercício. Estudos mostram que treinar com baixos estoques de glicogênio aumenta a fosforilação da AMPK e da p38 MAPK, intensificando a ativação da PGC-1α e promovendo maior biogênese mitocondrial.


Entretanto, os mecanismos exatos ainda não são totalmente compreendidos. Alguns estudos sugerem que proteínas como p53 — tradicionalmente associadas ao controle celular e apoptose — também podem atuar na regulação mitocondrial em estados de baixa disponibilidade de carboidratos.


Suplementação de Proteínas: Preservando a Massa Muscular e Suportando a Biogênese

A restrição de carboidratos, embora promissora para melhorar a oxidação de gorduras e a densidade mitocondrial, pode induzir catabolismo muscular, com aumento da proteólise. Neste cenário, a suplementação de proteínas emerge como uma estratégia eficaz para preservar a integridade muscular.


A ingestão de proteínas, especialmente contendo aminoácidos essenciais como a leucina, ativa a via mTORC1 — um importante sinalizador anabólico que estimula a síntese de proteínas musculares. Surpreendentemente, há interações entre as vias mTORC1 e AMPK-PGC-1α, sugerindo que a suplementação proteica pode não apenas evitar perdas musculares, mas também favorecer adaptações mitocondriais.


Ainda que os resultados sejam mistos, alguns estudos observaram aumento na expressão de PGC-1α quando proteínas foram consumidas junto ao exercício aeróbico. Outros, porém, não notaram diferença significativa em comparação com carboidratos isolados. Apesar das incertezas, a proteína demonstrou não atrapalhar a biogênese mitocondrial e, em muitos casos, até melhorar a recuperação muscular.


Considerações Finais

A revisão deixa claro que estratégias nutricionais bem planejadas podem otimizar as adaptações ao exercício aeróbico. A restrição controlada de carboidratos, ao induzir um ambiente metabólico desafiador, pode acionar vias sinalizadoras que favorecem a biogênese mitocondrial. Por sua vez, a suplementação de proteínas atua como suporte estrutural e funcional, promovendo síntese proteica e reparo muscular.


Contudo, a ciência ainda não chegou a um consenso definitivo sobre as melhores proporções e cronograma de ingestão desses macronutrientes para maximizar os benefícios. Novas investigações são necessárias para definir protocolos personalizados, levando em conta variáveis como intensidade e frequência do treino, perfil metabólico e objetivos individuais.


Enquanto isso, praticantes de atividades aeróbicas e profissionais de saúde devem considerar cuidadosamente o contexto individual antes de aplicar estratégias como treinos em jejum ou dietas restritivas. O equilíbrio entre desempenho, recuperação e saúde muscular continua sendo a chave para otimizar os resultados a longo prazo.

Fonte: https://doi.org/10.3945/an.113.004572

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.