A solução é dizer não.


Por Guilherme,

Refletindo sobre os diversos benefícios de uma jornada diária de 8 horas de sono todos os dias, muito bem descritas no livro do Matthew Walker (post aqui), bem como interagindo com os leitores sobre esse tema tão caro à nossa sociedade atual, uma preocupação comum emergiu de toda essa pauta de conteúdos inter-relacionados:

Como conciliar as 8 horas diárias de sono com o catatau de coisas que tenho que fazer todos os dias?

O problema

Reflita comigo.

Partindo da premissa de que o corpo humano, de que você, precisa dormir 8 horas todos os dias – não são 7, muito menos 6, mas sim 8, e o livro do Walker me convenceu dessa quantidade de horas de uma forma que eu jamais achava que iria me convencer – sobram então 16 horas diárias pra fazer tudo o que tem que ser feito.

As 8 horas de sono diárias são inegociáveis.

Ou seja, elas não podem ser puladas ou compensadas nos finais de semana (se você dorme mais aos finais de semana do que durante a semana seu sono está desregulado, por mais que você não admita isso) – e a lista de malefícios pra quem dorme menos do que 8 horas por dia, descritas pelo Matthew, são assustadoras.

Portanto, a vida tem que acontecer nessas 16 horas diárias de estado de vigília e atenção. Se você, por exemplo, costuma acordar às 6 da manhã todos os dias, tem que estar dormindo já a partir das 22 horas da noite anterior.

E, para começar a dormir às 22 horas da noite anterior, você deve começar a desacelerar a partir das 21 horas.

A tarefa parece ingrata pra muitas pessoas, que logo devem estar pensando:

“Como assim? Isso é impossível. Eu consigo dormir apenas 6 ou 7 horas todos os dias, há muito tempo, e durmo muito bem”.

Infelizmente não é assim que a coisa funciona.

O fato de um determinado tipo de comportamento ser repetido ao longo de muitos anos e talvez décadas não significa que ele seja o mais adequado do ponto de vista da saúde física, mental e emocional.

Pra que dorme menos do que 8 horas por dia, uma hora a conta chega. E, como eu disse acima, na maioria das vezes a conta se torna impagável, de modo que os efeitos negativos da falta de sono na quantidade adequada acabam se tornando irreversíveis, piorando para sempre a vida de tais pessoas, e levando à morte prematura.

Ronald Reagan e Margaret Thatcher se gabavam publicamente de dormir apenas de 4 a 5 horas por dia. Uma hora o corpo deles iria pagar a conta. E a conta da falta de sono chegou, tanto para ele (link) quanto para ela (link). Uma pena que as contas poderiam ser evitadas… se eles adotassem uma rotina de sono mais saudável.

A solução

Pois bem.

Fazer a vida “caber” dentro de 16 horas diárias de vigília e atenção parece impossível para quem tem mil e uma atividades que demandam, muitas vezes, que a pessoa (que pode ser você, inclusive) tenha que ficar acordada e desperta 17 horas, 18 horas por dia, ou até mais.

A solução para resolver esse problema não é diminuir a quantidade de horas de sono, pois isso implicaria em diminuir sua saúde física, mental e emocional, o que, a longo prazo, nem remédios nem cafeína nem terapia nem os melhores tratamentos médicos do mundo são capazes de resolver, como provam os casos do ex-presidente dos Estados Unidos e da ex-primeira ministra do Reino Unido.

A solução, para resolver esse problema, está contida no título desse artigo: é dizer não.

Se você está adicionando à sua vida camadas que você não é capaz de suportar, a solução é você eliminar as camadas, não a sua vida.

Mas dizer “não” não é fácil. Mexe com nosso orgulho. Mexe com nosso ego. Mexe com nossa vaidade. “Mas eu consigo fazer isso, fazer aquilo etc.”. Consegue nada.

O segredo do sucesso não consiste tanto na quantidade de coisas que você é capaz de fazer, mas sim na quantidade de coisas que você é capaz de fazer bem feito, e, para fazer bem feito, é preciso ser seletivo nas suas escolhas.

Como nossos recursos de tempo são escassos e limitados (mas nossas demandas externas e nossos desejos internos são ilimitados) e, por causa da necessidade de 8 horas diárias de sono, nossos recursos de tempo ficam mais escassos ainda, de modo que você precisa aprender a dizer não para uma imensidade de tarefas, ainda que elas impliquem algum tipo de renúncia.

Não vá na onda da “produtividade em primeiro lugar”, como é o mantra pregado por muitas empresas e instituições. Se o mantra da produtividade acarretar em você a necessidade de prolongar de forma totalmente artificial o seu estado de vigília e atenção – a ponto de você ficar dependente cada vez mais de cafeína e remédios pra ficar alerta – pare agora e repense tudo o que você estiver fazendo, porque isso pode estar destruindo silenciosamente a sua vida, potencializando as chances de você ficar demente e sofrer de inúmeros outros problemas em seu corpo, incluindo infarto, diabetes, derrame etc.

Muitos dos problemas que acometem as pessoas atualmente, tais como ansiedade crônica, depressão, mau humor, irritabilidade fácil, falta de concentração, bloqueio mental, ausência de criatividade, falta de força de vontade, transtorno bipolar etc., decorrem da ausência de descanso adequado, e a ausência de descanso adequado é consequência direta de um fato incontroverso: a falta de sono. Daquelas preciosas 8 horas diárias de sono.

Se você dorme mais aos finais de semana – de sexta para sábado e de sábado para domingo – do que durante a semana, isso é um fortíssimo sinal de que seu sono está desregulado, e que você é forte candidato a sofrer de vários dos malefícios dessa situação, tal como apontado no livro do Walker.

Na vida real….

Não tente abraçar o mundo fazendo mais coisas do que você realmente é capaz de fazer dentro das 16 horas diárias de vigília. Isso pode lhe custar muito caro, não só no futuro, a longo prazo, mas também a curto prazo, manifestado através dos diversos problemas mentais e emocionais acima descritos.

A propósito do tema, veja o comentário do leitor Bilionário no post da semana passada:

“É verdade esse bilhete!

Durante muitos anos, dos 14 aos 24 mais ou menos, eu praticamente não dormia de forma suficiente, eram noites e madrugadas estudando ou trabalhando, eu acabei fazendo muita coisa concomitante nesse período e o resultado foi que um dia eu bati o carro de frente ao dar uma “piscada” no volante, poderia ter sido fatal, mas dei sorte e não tive danos físicos, apenas materiais.

Poderia dizer que o culpado foram meus pais e professores, mas acho que no final o culpado somos nós mesmos, nós que não sabemos dizer não, queremos sempre fazer tudo a agradar a todos, isso acaba com seu tempo.

Depois disso eu aprendi a lição, mudei de emprego para um que me possibilitasse dormir um pouco mais, e comecei a ir mais devagar nos projetos e ambições pessoais, parei de fazer tantos trabalhos extras. Hoje estou conseguindo dormir 8 horas quase todos os dias, eventualmente alguma coisa ainda me tira o sono, mas no geral estou muito mais saudável.

Atualmente posso dizer que do tripé mencionado, eu preciso melhor a alimentação e fazer mais exercícios, do sono eu aprendi.”



Conclusão


Menos é mais. Definitivamente.

Em termos de atividades, de demandas, de tarefas, você precisa diminuir o ritmo. Diminuir em quantidade (de tarefas), para ganhar em qualidade.

E, no campo do sono, mais é mais mesmo. Você precisa dormir mais pra ganhar mais de tudo: de atenção, de concentração, de poder de memória, de criatividade, de energia física.

Você precisa mudar o paradigma de sua vida, que é o paradigma de mais sono e menos atividades, pois só mudando as referências é que você estará apto a viver uma nova vida, rejuvenescido(a), com mais energia e disposição.

No final das contas, dizer “não” para os outros significa dizer “sim” pra você. E então, qual tem sido a sua prioridade nos últimos tempos?

Fonte: https://bit.ly/3h0Gylt


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