Reformulando estudos de microbiota nutricional para refletir uma flexibilidade metabólica inerente do intestino humano: uma revisão narrativa com foco em dietas ricas em gordura.


O artigo revisa o impacto das dietas ricas em gordura na saúde intestinal, com foco no papel dos alimentos de origem animal. A visão predominante na literatura científica é que dietas com alto teor de gordura, especialmente aquelas de origem animal, podem prejudicar a microbiota intestinal e, consequentemente, a saúde humana. Estudos indicam que essas dietas estariam associadas a um risco aumentado de doenças como câncer, doenças cardiovasculares, disfunções imunológicas e diabetes, em parte devido às mudanças que causam na microbiota intestinal. Em geral, há uma preocupação com o aumento de microrganismos tolerantes à bile e a redução daqueles que metabolizam fibras, algo típico em dietas ricas em gordura e pobres em carboidratos, como as cetogênicas.

Contudo, o artigo propõe uma visão mais ampla e equilibrada sobre o papel das dietas ricas em gordura e proteína animal. Ele argumenta que o corpo humano e sua microbiota são metabolicamente flexíveis, ou seja, capazes de se adaptar a diferentes padrões alimentares, inclusive aqueles que envolvem o consumo predominante de gorduras e proteínas. Essa flexibilidade evolutiva permitiu aos seres humanos sobreviverem a longos períodos com dietas variáveis, inclusive com a predominância de alimentos de origem animal, quando os vegetais eram escassos. Nesse sentido, dietas como a cetogênica, bem formuladas, podem fornecer fontes alternativas de energia, como corpos cetônicos e ácidos graxos de cadeia curta, que podem desempenhar funções essenciais no intestino.

Além disso, o texto destaca que a produção de ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, frequentemente associada à ingestão de carboidratos, pode ser compensada por outras moléculas, como o isobutirato e o beta-hidroxibutirato, em dietas cetogênicas ou ricas em gordura. Esses compostos podem ter efeitos semelhantes no intestino, sustentando a função das células epiteliais e ajudando a manter a integridade da barreira intestinal.

O artigo também sugere que muitos dos estudos que associam dietas ricas em gordura a danos à saúde intestinal podem ser enviesados pelo uso de modelos animais e dietas com qualidade nutricional questionável, como aquelas ricas em óleos refinados e açúcares, que não representam adequadamente dietas cetogênicas bem planejadas em humanos. Além disso, muitas das conclusões sobre os efeitos negativos dos alimentos de origem animal são baseadas em estudos epidemiológicos que podem não separar adequadamente o impacto de diferentes tipos de gordura e de carne no contexto de uma dieta equilibrada e sem outros fatores prejudiciais, como o consumo de alimentos ultraprocessados.

Assim, o artigo conclui que é necessário mais nuance e cautela na interpretação dos efeitos das dietas ricas em gordura e alimentos de origem animal na saúde intestinal. Ele sugere que, ao invés de se focar exclusivamente nos carboidratos como fonte de energia benéfica para a microbiota, deve-se considerar a possibilidade de outras fontes de combustível, como gorduras e proteínas, serem igualmente eficazes, dependendo da condição metabólica e do estado de saúde do indivíduo. O texto também propõe que o conceito de um microbioma “saudável” deve ser mais flexível, levando em consideração a adaptação evolutiva do intestino humano a diferentes padrões alimentares.

Fonte: https://bit.ly/3sFIz9e

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