Os quatro estágios da deficiência de vitamina B12.

Desistiu de alimentos de origem animal? Como garantir que você não chegue ao estágio quatro. O dano pode ser irreversível.

Por Maria Cross,

Se você recentemente mudou para uma dieta 100% vegetal, você pode relaxar por um bom tempo. O fígado adulto pode armazenar vitamina B12 suficiente para durar de 1 a 5 anos. Mas depois disso, e sem um “planejamento cuidadoso”, sua saúde pode sofrer danos graves e irreversíveis.

Você costuma ouvir e ler que uma dieta baseada em vegetais pode ser saudável, com um planejamento cuidadoso o suficiente. Infelizmente, mais detalhes sobre o que isso acarreta nem sempre estão disponíveis. Portanto, no interesse de garantir uma dieta baseada em vegetais cuidadosamente planejada, descrevo abaixo os quatro estágios da deficiência de vitamina B12 — e como ter certeza de que você não chegará ao estágio quatro.

A vitamina B12, também conhecida como cobalamina porque contém o oligoelemento cobalto, não é encontrada em alimentos vegetais. É feita por bactérias no intestino dos animais e migra do intestino para o músculo. Uma vitamina solúvel em água, a B12 é crucial para o cérebro e o sistema nervoso, a formação de glóbulos vermelhos e o DNA.

O sistema nervoso central é especialmente vulnerável à deficiência de vitamina B12.

Escrevendo no British Medical Journal em 2013, os pesquisadores descrevem o caso de um homem de 25 anos com com níveis baixos de B12 no sangue e mielopatia.

Mielopatia, um termo geral para degeneração da medula espinhal, é a síndrome neurológica mais comum de deficiência de vitamina B12 e é um sinal de deficiência do estágio quatro inicial. Se detectado a tempo, a condição é totalmente reversível.

O homem em questão procurou ajuda médica por causa de uma sensação de formigamento em ambas as mãos que se espalhou para os braços. Descrito como um “vegetariano estrito”, ele foi tratado imediatamente com injeções de B12, o que levou a uma rápida resolução de seus sintomas. Como os pesquisadores concluem:

“O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para prevenir os danos irreversíveis ao sistema nervoso.” (Verma et al) 

Você só ficará ciente de quaisquer sintomas no estágio 4.

Estágio 1

É quando a “depleção sérica” se torna evidente. É possível detectar baixos níveis da proteína transportadora B12 TCII. Os níveis de TCII caem poucos dias após a ausência da vitamina.

Estágio 2

À medida que o estágio 1 avança para o estágio 2, um baixo nível de vitamina B12 pode ser detectado em nível celular. Como no estágio 1, não há sintomas perceptíveis.

Estágio 3

Nesta fase, existe outra alteração detectável no sangue. Os níveis de um aminoácido chamado homocisteína começam a subir acima do normal, criando uma condição às vezes chamada de 'hiperhomocisteinúria'. É um ato de gangorra: conforme os níveis de B12 aumentam, os níveis de homocisteína caem e vice-versa.

Tudo sobre homocisteína

A homocisteína elevada (Hcy) no sangue é uma indicação de deficiência de B12.

O metabolismo normal da homocisteína é regulado por um trio de vitaminas B: B12, folato (B9) e vitamina B6, trabalhando juntos como cofatores. Para reduzir os níveis sanguíneos de Hcy, você só precisa de uma ingestão regular e adequada dessas três vitaminas.

A deficiência de B6 é incomum, pois essa vitamina é amplamente distribuída em uma ampla variedade de alimentos. A deficiência de folato é mais comum e pode ser revertida com a ingestão de muitos vegetais de folhas verdes, como espinafre e couve, embora a fonte alimentar mais rica sejam as vísceras de animais, especialmente fígado bovino. 

A vitamina B12 é a mais complicada, a que provavelmente não está na dieta alimentar.


Como a vitamina B12 é encontrada exclusivamente em alimentos de origem animal, os grupos mais vulneráveis ​​são vegetarianos e veganos.

Devo acrescentar, neste ponto, que a deficiência de B12 pode ser provocada por outras causas além da evitação de alimentos de origem animal, e abordo isso em um artigo separado sobre o assunto. Mas evitar a dieta é a principal causa da deficiência.

A deficiência de B12 era considerada rara em vegetarianos, mas agora é conhecida por ser comum entre pessoas em todas as variações vegetarianas. Os pesquisadores observaram deficiência de estágio 3 em mais de 60% dos vegetarianos.

Estágio 4

Este é o estágio de deficiência clínica — os sinais e sintomas começam a aparecer. Alguns deles são mais sérios do que outros e alguns são mais óbvios do que outros.

Os primeiros sintomas leves de deficiência de vitamina B12 no estágio 4 incluem:

• Fadiga
• Depressão
• Ansiedade
• Perda de apetite
• Palidez
• Perda de cabelo
• Dormência ou formigamento nas mãos e pés
• Memória fraca.

Problemas de memória e processos mentais lentos são os problemas cognitivos mais comumente relatados associados à deficiência dessa vitamina.

Tanto o sangue quanto o sistema nervoso central têm maior probabilidade de serem afetados nesta fase. A anemia megaloblástica não é incomum. Esta é uma condição na qual glóbulos vermelhos anormais são produzidos pela medula óssea.

“A anemia megaloblástica resultante da deficiência de cobalamina também pode estar associada a sintomas neurológicos. O sintoma neurológico inicial pode ser formigamento ou dormência nas mãos ou pés. Sintomas adicionais se desenvolvem com o tempo, incluindo problemas de equilíbrio ou marcha, perda de visão devido à degeneração (atrofia) do nervo que transmite impulsos da retina para o cérebro (nervo óptico) e confusão mental ou perda de memória.”

Um resultado neurológico possível é a mielopatia, conforme vivenciado pelo jovem documentado no British Medical Journal. Também pode haver neuropatia (danos nos nervos) e demência. Neuropatia periférica (danos aos nervos nas extremidades do corpo) é observada em 25% dos pacientes com deficiência de vitamina B12.

Uma das principais preocupações é uma forma de mielopatia que afeta a medula espinhal, chamada de 'degeneração combinada subaguda' (DCS). As bainhas de mielina e os axônios são destruídos na substância branca da medula espinhal. A mielina é a camada protetora que envolve o nervo. Felizmente, DCS:

“.. geralmente é reversível, se diagnosticado e tratado precocemente .”

Outra indicação de deficiência de estágio 4 é a depressão.

Um estudo comparou os níveis de vitamina B12 em 100 vegetarianos com 100 onívoros. A vitamina B12 foi significativamente menor no grupo vegetariano e a frequência de depressão foi de 31% em comparação com 12% nos onívoros. A psicose foi encontrada em 11% dos vegetarianos, em comparação com 3% dos onívoros. Os pesquisadores concluíram que:

“Os vegetarianos têm deficiência de vitamina B12 e são mais propensos a desenvolver problemas neuropsiquiátricos e neurológicos.” (Kapoor et al).

Em pessoas mais velhas, a função cognitiva pode diminuir e surgir demência. Os idosos — sejam vegetarianos ou onívoros — são vulneráveis ​​à deficiência de B12, um fator que pode ser facilmente esquecido quando surgem os sintomas de demência. Estima-se que 10% a 15% das pessoas com mais de 60 anos têm deficiência de vitamina B12.

Vários desses casos foram relatados na imprensa. Em 2011, o New York Times relatou o caso de uma mulher de 85 anos que foi diagnosticada com Alzheimer depois de se tornar cada vez mais confusa e esquecida. Felizmente, ela foi testada para vitamina B12 e descobriu-se que era deficiente. Depois de receber injeções semanais de B12, ela recuperou sua saúde mental o suficiente para continuar a viver de forma independente e sozinha.

No ano passado (2018), o Journal of Alzheimer's Disease publicou uma Declaração de Consenso sobre a ligação entre a deficiência de B12 e a demência. Os pesquisadores concluíram que o rastreamento de homocisteína elevada deve ser realizado em clínicas de memória, e as pessoas com níveis elevados devem receber vitaminas B suplementares. Aparentemente, isso é algo que já acontece na Suécia.

Se não for tratado, o estágio quatro progredirá para danos irreversíveis ao sistema nervoso central.

As três fases de um planejamento cuidadoso

Apesar das consequências potencialmente devastadoras da deficiência de vitamina B12 não tratada, é possível continuar com uma dieta baseada em vegetais se você souber o que está fazendo. Isso significa estar informado sobre fontes alternativas de B12 e certificar-se de que possui o suficiente dessas fontes.

Etapa 1: faça o teste

Se você está preocupado com seu status B12, recomendo que sua primeira etapa envolva testes.

Existem dois testes que são bastante úteis — os níveis de vitamina B12 no sangue (soro) e os níveis de homocisteína.

Um teste de vitamina B12 no sangue pode fornecer um sinal de alerta precoce de que você tem níveis baixos dessa vitamina e chegou ao estágio 1 e / ou 2, e possivelmente está caminhando para o estágio três.

Se você tem homocisteína alta (estágio 3), provavelmente deseja saber a respeito. Felizmente, é um teste relativamente simples que você pode pedir ao seu médico.

O que é deficiência?

A quantidade diária recomendada de B12 é 2,4 mcg nos EUA e 1,5 mcg no Reino Unido. Estas são estimativas baseadas no que é considerado suficiente para prevenir a anemia megaloblástica.

Etapa 2: tome os suplementos certos



Ninguém absorve toda a vitamina B12 que consome. Mesmo os onívoros podem esperar digerir e absorver cerca de 50% dessa vitamina da carne e do peixe.

Embora os vegetarianos geralmente comam alimentos lácteos e ovos, a quantidade de B12 é bastante baixa nesses alimentos e a taxa de absorção também não é grande. Isso explicaria por que eles são frequentemente deficientes nesta vitamina, mas não na mesma medida que os veganos.

Existem várias formas de B12, naturais e sintéticas. O tipo mais comumente usado em suplementos é a cianocobalamina, uma forma sintética não encontrada na natureza. É barato, muito popular entre os fabricantes. O corpo deve convertê-lo em metilcobalamina, uma forma natural.

Portanto, se você já está tomando um suplemento de B12, verifique o rótulo para ver em que forma está. Os suplementos orais de vitamina B12 em geral têm uma baixa taxa de absorção - 0,5% - 4%. É por isso que os suplementos dessa vitamina geralmente tendem a ser feitos em doses muito altas. Uma dose oral de 1000mcg, que é bastante típica, fornece cerca de 5–40mcg de B12. Os pesquisadores sugerem uma dose oral de 50–100mcg por dia, ou 2.000mcg por semana, para adultos vegetarianos saudáveis, levando em consideração a taxa de absorção.

“Os vegetarianos devem, portanto, tomar medidas preventivas para garantir a ingestão adequada desta vitamina, incluindo o consumo regular de suplementos contendo B12.” (Pawlak et al).

Etapa 3: lance um olhar cínico sobre os alimentos fortificados.

Às vezes, os fabricantes de alimentos processados ​​adicionam vitamina B12 (junto com outros nutrientes) a seus produtos, de modo que podem colocar isso em destaque na embalagem. Pessoalmente, acho que isso é muito enganador, pois você pode (razoavelmente) supor que a fortificação elimina a necessidade de tomar suplementos adicionais. A verdade é que a fortificação geralmente é feita com pequenas quantidades da forma sintética de B12.

“Em alguns países, certos alimentos são fortificados, como cereais matinais, com Cbl. No entanto, as quantidades utilizadas são bastante variáveis ​​e o consumo desses alimentos não pode garantir a suficiência na ausência de outras fontes”. (Rizzo et al)

Entrei em contato com algumas empresas, que confirmaram que fortificam com a forma artificial de cianocobalamina, incluindo o fabricante de um 'leite' de aveia que, de forma prestativa, adicionou em seu e-mail que:

“… Presumimos que as pessoas que carecem dessa vitamina tomam suplementos, portanto, acreditamos que a cianocobalamina é eficaz para a maioria de nossos consumidores”.

Em suma, eu definiria “planejamento cuidadoso” como suplementação informada, de preferência com vitamina B12 natural e em um nível suficiente para garantir a absorção adequada. Alimentos fortificados são bons se você gosta desse tipo de coisa, mas não os veja como uma garantia de fornecimento adequado de B12, ou uma garantia contra os danos irreversíveis da deficiência do estágio quatro.

Fonte: http://bit.ly/3rovL77