Nenhuma população de caçadores-coletores é total ou amplamente dependente (86-100% de subsistência) de alimentos vegetais coletados, enquanto 20% (n = 46) são altamente ou exclusivamente dependentes (86-100%) de alimentos de origem animal pescados e caçados.
O estudo investiga a composição da dieta dos caçadores-coletores ao redor do mundo para compreender os hábitos alimentares dos humanos pré-agrícolas e suas possíveis implicações para a saúde moderna. Utilizando dados etnográficos, os pesquisadores analisaram a proporção entre alimentos de origem vegetal e animal e a ingestão de macronutrientes, como proteínas, gorduras e carboidratos, para reconstruir padrões dietéticos ancestrais.
Os resultados indicam que, sempre que possível, os caçadores-coletores consumiam grandes quantidades de alimentos de origem animal, que representavam entre 45% e 65% da energia total ingerida. A maioria (73%) das sociedades analisadas obtinha mais da metade de sua subsistência de fontes animais, enquanto apenas 14% dependiam principalmente de alimentos vegetais. Esse padrão alimentar resultava em dietas com alto teor proteico (entre 19% e 35% da energia total) e um consumo relativamente menor de carboidratos (22% a 40%). O consumo de gordura variava amplamente, dependendo da disponibilidade de presas mais gordurosas e da proporção de alimentos vegetais na dieta.
O estudo também aborda a capacidade fisiológica dos humanos para metabolizar proteínas. O fígado tem um limite na conversão de nitrogênio em ureia, e o excesso de proteínas pode causar efeitos negativos, como a chamada “fome do coelho” — um estado de intoxicação pelo excesso de proteínas associado a sintomas como náusea, diarreia e até morte. Assim, para evitar esses problemas, os caçadores-coletores adotavam estratégias específicas, como a caça a animais maiores e mais gordurosos, o consumo seletivo de partes do corpo ricas em gordura, a ingestão de fontes concentradas de carboidratos (como frutas e mel) e a inclusão de mais vegetais sempre que disponíveis.
Outro aspecto analisado é a variação da dieta conforme a localização geográfica. Em regiões de clima temperado e tropical, onde havia maior disponibilidade de vegetais, o consumo de alimentos vegetais era relativamente maior. Já em latitudes mais elevadas, onde os vegetais eram escassos, os caçadores-coletores compensavam a falta de carboidratos com um maior consumo de gorduras animais, principalmente oriundas de peixes e mamíferos marinhos.
Comparando esses padrões alimentares com as dietas modernas, os pesquisadores observam diferenças significativas. Enquanto os caçadores-coletores consumiam mais proteínas e menos carboidratos, as dietas ocidentais contemporâneas são ricas em grãos, açúcares e alimentos processados, que não faziam parte da alimentação ancestral. A ingestão de gordura pelos caçadores-coletores variava conforme a composição corporal dos animais caçados, diferindo das dietas modernas, que contêm altos níveis de gorduras processadas e óleos vegetais refinados.
Os pesquisadores sugerem que a dieta dos caçadores-coletores pode oferecer insights valiosos para a nutrição moderna e a prevenção de doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. O estudo destaca que os seres humanos evoluíram para consumir uma dieta mais próxima à dos caçadores-coletores do que àquela promovida pela industrialização da alimentação.
Fonte: http://bit.ly/3oOeZ0p